segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Tolos Versos Livres

Sou um amante incessante com todos os altos e baixos.
Se disser que te amo ou disser que te odeio, acredite.
Não sei fingir sentimento.
Eu vivo a intensidade do gesto, do toque, do olhar e das palavras.

Peguei um resquício de orgulho que ornava os meus olhos e guardei numa caixa,
Dentro de um envelope amarelo, junto a uma saudadE extraviada e
Vivo sem saber por que vejo o seu rosto em milhares de outros rostos.
O seu perfume é único. É curva em francês. Só eu entendo.

Estou louco e,
Quis escrever em versos livres, tão livres quanto você, tudo que pudesse lhe agradar, caro leitor,
Mas se tratando de mim não poderia oferecer nada diferente da minha essência
Versos são entediantes, quietos e tolos como eu,
Presumo que não serão de grande valia predicados tão modestos.

Apoderei-me de uma paixão inventada
Dessas que a ninguém pertence
Dessas que de saudade mata
Dessas que ninguém entende
Paixão limitada
Saudade incompleta.
 



                                                   [autor: Eli Nunes ]


                                                                                     Salvador Dali



"Lá vou eu de novo, feito um tolo, Procurar o desconsolo Que eu cansei de conhecer. Novos dias tristes,
Noites claras, versos, cartas Minha cara, ainda volto a lhe escrever Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado De lembranças do passado E você sabe a razão" (Tom Jobim e Chico Buarque)




quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Angústias Agostianas | Caio Fernando Abreu


Não me critiquem por isso, angústias Agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um... Que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.


Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína; se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto,digitar rápido o ponto final. Sinto muito, perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.


(imagem de Salvador Dalí )
(Caio Fernando Abreu / Agosto de 1995, O Estado de São Paulo)